RIO DE JANEIRO - Os cerca de 3 mil moradores da Ladeira dos Tabajaras e do Morro dos Cabritos, em Copacabana, na zona sul do Rio, ganharam nesta quinta-feira (14) uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a sexta implantada na cidade. Desde 25 de dezembro, homens do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) ocupavam a área para garantir a retirada de traficantes que há décadas dominavam a localidade.
Durante o evento, o governador do Rio, Sérgio Cabral, informou que as novas UPPs começam a ser implantadas em meados de abril, quando haverá a formatura de mais 1,3 mil policiais militares. “Logo após o carnaval os policiais do Bope começam a ocupar as comunidades para que em seguida entrem os policiais recém-formados com as unidades pacificadoras. E a partir daí não vamos parar mais.”
O governador informou que com a nova UPP, já são nove comunidades pacificadas na cidade, beneficiando mais de 160 mil moradores. Cabral não divulgou quais serão as próximas comunidades a receberam UPPs, para não comprometer as operações, mas garantiu que a zona norte será contemplada ainda neste ano.
Ao todo, 120 policiais militares recém-formados e outros 20 policiais antigos vão atuar por 24 horas nas duas comunidades sob o comando da capitã Rosana Alves, há 12 anos na corporação, com pós-graduação em segurança e cidadania. A oficial disse que a receptividade tem sido muito boa.
“As crianças vêm conversar comigo. Teve um menininho que veio me oferecer água e outro que me convidou para jogar playstation com ele. Os idosos acenam e querem bater papo. Os jovens são mais desconfiados, mas também têm me recebido bem.”
A capitã contou que pretende espelhar seu trabalho no da amiga, a capitã Priscila, comandante da primeira UPP instalada no Rio, no Morro Santa Marta, em Botafogo, zona sul. “A Priscila desbravou grande parte do caminho que nós estamos percorrendo agora. Ela é uma profissional extremamente qualificada que não perde a ternura e isso é muito importante para a gente que trabalha com a comunidade.”
Nascido e criado na Ladeira Tabajaras, o aposentado Olímpio Barbosa, 80 anos, recebeu com entusiasmo a nova unidade. “Antes isto aqui estava uma bagunça; a gente pagava um dinheirão pelo bujão de gás (para o tráfico) e agora estamos pagando barato. Estou achando uma maravilha.”
A copeira aposentada Maria do Carmo Tavares Rodrigues, 70 anos, mora há 30 anos na comunidade e disse que até a ocupação da polícia em dezembro passado tinha medo de sair de casa à noite. “Quando ia pôr o lixo para fora, ia e voltava correndo. Era homem descendo e subindo de moto com arma na mão. Aquilo me dava muito medo.”
Temporariamente, os policiais ficarão lotados em dois contêineres com ar condicionado até que a nova sede seja construída. O local já foi escolhido e será no alto do morro dos Tabajaras, de frente para a praia de Copacabana. O secretário estadual de segurança, José Mariano Beltrame, disse que a aquisição do terreno está em negociação.
Ele ressaltou que essas unidades fixas têm uma função que vai além do policiamento. “Elas se propõem a recuperar a relação de confiança entre cidadão e polícia, possibilitando a entrada de projetos sociais e profissionalizantes na comunidade.”
A meta do governo é de que 50 comunidades, hoje sob o domínio do tráfico ou de milícias, tenham recebido unidades pacificadoras até 2016, quando o Rio de Janeiro será a sede dos Jogos Olímpicos e Para-Olímpicos.